Homem de ferro e Naamã
Tony Stark é o
moderno Naamã
O que uma armadura de ferro pode fazer a uma pessoa? Na história de Tony Stark, o Homem de Ferro, ele é um cientista e empresário genial, Ph.D. em física e engenharia de automação. Nunca faltou dinheiro para seus projetos, pois herdou a fortuna e os empreendimentos de seu pai, aos 21 anos, quando este faleceu em um acidente. Dada a sua juventude, criou para si um estilo playboy bilionário, narcisista, prepotente, arrogante, fanfarrão e autossuficiente. Tudo para esconder a fragilidade de sua saúde.
O
homem de ferro é uma ficção, ainda que as características do personagem tenham
sido inspiradas na vida de um milionário americano chamado Howard Hughes. E na vida real como
funcionam as máscaras de ferro? Quanto maior a blindagem mais se revelam as
fraquezas. O que poderia ser esta blindagem ou máscaras de ferro? Poderia
sugerir o sucesso, a fama, o encantamento com os holofotes, os aplausos e
etc. Como disse John Maxwell: “Holofotes não constroem caráter, mas o revela.”
Pessoas como
políticos, sacerdotes, pastores, astros do cinema, cantores famosos e
celebridades em geral, são presas fáceis da hipocrisia que necessitam de
blindagem de ferro. Muitos mascaram dores e crises existenciais diante da
sociedade com sorrisos falsos e ostentações.
No entanto, quando estão só, são como os deuses da mitologia grega que
se deprimiam pela ausência de adoradores. Parece uma angústia, não aceitam ter
uma existência como seres humanos comuns. Reclamam dos paparazzis e falta de privacidade, mas quando estão fora
da mídia e dos fleches se deprimem. Por isso, não são raras as mortes de
celebridades por overdose. Fama dá poder
e entorpece.
Os imperadores
romanos eram considerados semideuses, eram adorados, e a história não nega:
muitos deles como Nero, e Calígula
terminaram loucos. Festas de orgias e muito vinho eram comuns entre
eles. Não precisavam reprimir suas fantasias - eram deuses - podiam tudo; não
cometiam crimes, mas decretos. Abusos sexuais e
outras atrocidades não eram vistos como erro para esses semideuses. A
coisa pública tratavam como privada. Deuses não prestam contas, não aceitam
conselhos. A loucura e embriaguez dos antigos imperadores começava no momento
que descobriam que eram humanos, que podiam morrer, serem envenenados.
Ser adorado,
venerado, admirado... pode gerar uma sensação de onipotência. Poucas pessoas na
história souberam lidar com o poder. Um soberbo e tirano no comando de uma
nação ou instituição fará das pessoas seus escravos.
Quando se trata de
questões divinas; Deus é o pretexto para as manifestações de tirania e
absolutismo. Deus não escolheu anjos e super-homens para serem líderes, Ele
escolheu gente de carne, osso, lágrimas, hormônios, insônias; gente com
gastrite, hipertensão, medo - medo da morte, de fracassar, de empobrecer, da
solidão, de escuro, de altura de elevadores e muitas outras fobias. Resumindo
tudo isto resulta em um ser humano que não precisa de máscaras de ferro para
esconder nada. Não podemos nos apoiar nisto para justificar falta de caráter.
Mas, poder dizer que está doendo é um bom remédio.
No Getsemani, Jesus
homem, não esconde sua humanidade. Ele disse para seus discípulos: “Minha alma
está angustiada até a morte, fiquem comigo por um momento”. Ah, se todos os
líderes fizessem o mesmo! Não haveria casamentos desfeitos, esgotamentos e
inúmeros infartos. Os “seguidores” de
Cristo falariam sobre as angústias de suas almas e isto não seria sinônimo de fraqueza.
Um líder não pode mostrar fraqueza. Por isto
se utilizam de máscaras de ferro. Velhos provérbios nos atormentam, tais como:
“o mundo não foi feito para os fracos”. Demonstrar fortalezas pode ser uma
maneira de esconder fraquezas. O ser humano precisa de momentos de cavernas
como Davi e Elias. Não estou fazendo apologia à covardia, mas ninguém é valente
o tempo todo. Declarar fraqueza não é fraqueza, mas fortaleza. Só os fortes sem
máscaras pedem ajuda, os fracos com
máscaras de ferro parecem que não precisam de socorro. As máscaras escondem as lágrimas;
a escuridão da alma.
É um
pouco estranho e difícil falar ou
escrever sobre fraqueza com as livrarias lotadas de livros de autoajuda e são
os que mais vendem, títulos como: “Descubra sua força interior”. Quando não
acham esta força interior, para fazer valer a pena o dinheiro que gastou, usam
máscaras e enganam-se a si mesmos pensando: Funcionou! Sou forte! Sensação sugestionável do livro de autoajuda.
Superficialidade pura. Precisamos crer na Palavra de Deus que é a ajuda que vem
do alto como diz a palavra: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza”.
Existe um provérbio
interessante: “É preciso derrubar um gigante a cada dia”. Mas, Davi não era
gigante mas derrubou o gigante Golias. Davi não conseguiu usar as armaduras de
Saul, ele preferiu lutar como humano. O capacete (máscara), escudo, couraça e
outras tralhas só iria atrapalhar Davi ser ele mesmo. Ele queria que Golias
olhasse para sua cara. Enquanto Davi preferiu lutar sem armadura, o general
Naamã precisava e se escondia atrás dela.
Naamã era um homem de ferro do seu tempo, uma
espécie de Tony Stark, General das forças
armadas do rei da Síria. Era um homem
valente, no entanto leproso.
“Porém”, “contudo”, “apesar disso”; apesar do valente, das
armaduras que usava e guerras que ganhavam, Naamã era leproso(II Reis
5:1). Por trás de uma máscara de ferro
existe dor, medo e fragilidades. Como era difícil para Naamã lutar contra a sua
humanidade, sua leprosidade. Sua família sabia de sua angústia.
A
família sabe tudo, faz de tudo, estraga tudo, conserta tudo e cura tudo. O que é
a família? A família é o ninho que esquenta
e que esfria, que amamenta e que desmama, que elogia e que critica. É a
família que nos faz crescer ou diminuir. Os “entre-tantos” e “poréns” são resolvidos e perdoados entre família. Como
disse John McCain: “Não podemos esconder de nós para sempre a verdade sobre nós mesmos”. A
família é uma espécie de espelho que não
deixa que nos enganemos a nos mesmos.
Nossa família é
nosso divã diário, sem hora ou dia marcado. O que seria de Naamã se não fosse
sua família, que o aceitava sem as armaduras, escudos e espadas? Naamã tinha um
lugar para guardar sua indumentária e ser ele mesmo.
Como somos vistos por fora? Somos tudo isso que aparentamos
ser? Já ouvia os antigos dizerem que as serpentes atacam de medo; são venenosas
para não serem envenenadas. O apóstolo Paulo diz que Deus usa vasos de barro
para colocar seus tesouros, para que o seu tesouro seja valorizado e não o
vaso.
Nossas fraquezas se revelam nos “poréns” da
vida; nos “entre-tantos” da vida; nos espinhos na carne que revelam
nossas fraquezas e exalta a Graça de Deus em nossas vidas. Entre tantos e
tantas outras coisas nos revelamos humanos, mesmo que lutamos o tempo todo para
sermos de aço, “latão reluzente”, “olhos como chama de fogo”.
Afinal de contas nossos olhos de vez em quando estão em chamas, vermelhos, mas
de tanto chorar. Nossas lágrimas sinalizam que somos de carne e osso. Por que
do Éden até hoje lutamos contra a nossa
humanidade? Não há como escapar desta realidade, as máscaras só nos servem para
períodos bem curtos. Logo alas caem.
Elson Medeiros
Elson Medeiros
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