Mulheres no ministério é Bíblico? Por Elson Medeiros
A história, tanto bíblica quanto secular, não nos privou de
conhecer grandes mulheres, que foram heroínas de guerras físicas e espirituais,
que nem a tradição, nem o machismo e a discriminação conseguiram impedir que
tais mulheres fossem usadas por Deus. O diabo sabe que as mulheres têm um poder
de influência muito grande, tanto para o bem quanto para o mal, e procura
alistá-las para seu reino. Deus tem um propósito mais excelente para as
mulheres: usá-las em Sua obra.
Os textos mais usados pelos que não aceitam que mulheres
exerçam o ministério são: I Timóteo 2.11-12 – “A mulher aprenda em silêncio,
com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade
sobre o homem; esteja, porém, em silêncio”; 1 Coríntios 14.35 – “Se, porém,
querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido;
porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja”; Atos 6.1-6 – ali não havia
nenhum nome feminino; outro argumento é que, no VT, não havia mulheres como
sacerdotisas; eram consideradas imundas nos dias menstruais.
Analisando os textos acima, é de suma importância observar o
contexto cultural e social da época e para quem foram escritos. Igrejas com
influência do judaísmo naturalmente determinavam que mulheres não podiam falar,
o que levou Paulo a considerar vergonhoso que mulher falasse em público.
Há muitos que não aceitam o argumento de que deve ser levada
em conta a questão cultural e os costumes da época. A cultura e os costumes do
povo em que a carta foi escrita precisam ser observados. Um dos grandes
problemas de interpretação é o desconhecimento de costumes culturais. Vou dar
alguns exemplos de culturas e costumes da época de Paulo:
Vinho: o apóstolo escreveu a Timóteo algo que não tem
nada a ver com o contexto cultural dos evangélicos no Brasil. 1 Timóteo 5.23 –
“Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu
estômago e das tuas frequentes enfermidades”; 1 Timóteo 3.8 – “Semelhantemente,
quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não
inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida ganância.” Este vinho não
era suco de uva como muitos dizem; Paulo não estaria preocupado com uma bebida
comum.
Escravos: Gálatas 3.28; 4.1; 4.7; Colossenses 3.11 e
Filemom 1.16 dão a entender que havia escravos entre os irmãos. No caso de
Filemom fica claro que Onésimo era um escravo em sua casa. No VT, o sacerdote
podia possuir escravos (Levítico 22.11). É isto cultural ou não? Ou vamos
aceitar a escravidão como doutrina bíblica, em pleno século XXI?
Ósculo santo (o beijo): Rm 16.16 – “Saudai-vos uns
aos outros com ósculo santo. Todas as igrejas de Cristo vos saúdam”; 1 Co 16.20
– “Todos os irmãos vos saúdam. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo”; 1
Ts 5.26 – “Saudai todos os irmãos com ósculo santo”. Será que levamos ao pé da
letra estas passagens como sendo doutrinárias? A resposta é: isto é totalmente
cultural; não estaríamos pecando se não seguíssemos este costume!
O que nos leva a entender que I Timóteo 2.11-12 e 1
Coríntios 14.35 eram uma questão cultural e local é que Paulo escreve outras
cartas com palavras totalmente diferentes em relação ao ofício das mulheres: Rm
16.1 – “Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo (diaconia) à igreja
de Cencréia”; Fl 4.3; Rm 16.3 – “Saudai a Priscila e a Áquila, meus
cooperadores em Cristo Jesus”; Rm 16.6 – Maria “que muito trabalhou por vós”;
Rm 16.7 – Júnia; 1 Co 11.5 – mulheres profetizavam na igreja de Corinto. Isto quer
dizer que elas “anunciavam a mensagem de Deus nas reuniões” (Bíblia, Linguagem
de Hoje). Só aqui há seis referências que provam que, no geral, Paulo não só
concordava como motivava o ministério feminino. A visão machista e
discriminatória não entende e é mais fácil dizer que Paulo se equivocou ao
afirmar que I Timóteo 2.11-12 e 1 Coríntios 14.35 eram locais e culturais,
assim como no caso do vinho, do escravo e do ósculo santo.
A cultura e os costumes do povo em que a carta foi escrita
têm que ser observados. Um dos grandes problemas de interpretação bíblica é o
desconhecimento de costumes culturais. Os seminários deviam ensinar
antropologia cultural com mais profundidade, não só para missionários, mas para
a liderança em geral.
Segundo Robert G. Clouse (introdução do livro Mulheres no
Ministério, Mundo Cristão), os batistas foram atacados por um folheto do
século XVII, atribuindo-lhes erros, heresias e blasfêmias, devido à questão de
“pregadoras do sexo feminino”. Clouse fala sobre mulheres batistas que pregavam
na Holanda, na Inglaterra e em Massachusetts; afirma que em Londres as mulheres
pregavam em um culto e atraíam multidões.
Frederick A. Norwood, autor do livro Expandindo
Horizontes: As mulheres no Movimento Metodista (Triunfo sobre o Silêncio,
p. 152), conta que João Wesley não aceitava que leigos ou não ordenados
pregassem, mas logo descobriu e admitiu que seus ajudantes eram bons
pregadores. Wesley era resistente à ideia de mulheres falarem em reuniões,
pregarem e ensinarem; mais tarde concluiu que as mulheres podiam exercer
funções vocacionais, que antes não podiam por causa da tradição.
Originou-se na Alemanha um grupo que combatia o formalismo
da religião reformada e pregava uma vida de mais comunhão com Cristo e um viver
diário que revelava essa comunhão. Dois nomes se destacaram: August Francke e
Philipp Jakob Spener. Essa renovação de fé proporcionou às mulheres novas
oportunidades em posições de liderança. Sempre que há avivamento e renovação, o
tradicionalismo cai e Deus muda as coisas: “Tradicionalismo e avivamento não
andam juntos”. Sempre um cai para dar lugar ao outro.
Segundo Robert G. Clouse, Calvino ensinava que mulheres não
podiam exercer autoridade sobre os homens, mas que a igreja deveria ser
sensível à cultura ao seu redor e não ofender a sociedade quanto a estas
questões.
Em certa igreja em Malden, subúrbio de Boston, encontra-se
uma placa de mármore com a seguinte inscrição:
“Memorial – Ver. Adoniram Judson – Nasceu: 09 de agosto de 1788 e morreu: 12 de
abril de 1850. Lugar de nascimento: Malden. Lugar de sepultamento: o mar. Seu
monumento: os salvos da Birmânia e a Bíblia Birmana. Seu histórico: nas
alturas.”
O nome de sua esposa, Ana, não está no memorial, mas a história não omitiu o
quanto esta mulher foi usada nas mãos do Senhor. Foi a primeira mulher a sair
dos EUA como missionária.
Não podemos esquecer a rainha Isabel da Inglaterra, decidida
a seguir o protestantismo. Em seu reinado foi organizada uma igreja nacional
protestante. Adotou-se um credo protestante; os Trinta e Nove Artigos se
inclinaram para o calvinismo. A igreja protestante tornou-se oficial no país e
a rainha, a autoridade maior da igreja. Em seu governo protestante, o país
desenvolveu-se política e economicamente; a Inglaterra tornou-se um dos
principais baluartes do protestantismo na Europa e depois para o mundo.
Sarah Osborn fez parte de um avivamento em Newport, Rhode
Island, nos anos de 1766-67; os cultos em sua casa atraíam mais de quinhentas
pessoas, afirma Robert G. Clouse. Ela foi muito criticada por permitir que
negros frequentassem os cultos. Sarah foi tida como rebelde, mas declarou que
havia convidado homens para dirigir esse culto de evangelização e, como eles
não apareciam, ela mesma tomou a iniciativa de liderar. Muitas vidas foram
levadas a Cristo por Sarah Osborn. Naquele tempo, muitos homens acreditavam que
as mulheres não tinham condições de ser líderes, pois seriam menos racionais,
extremamente emocionais, mais sujeitas a doenças físicas e mentais.
Phoebe Palmer (1807-1874), vivendo em Nova Iorque, sentiu a
chamada para divulgar a doutrina metodista da santidade. Em suas publicações
incluíam uma revista mensal (Guia para Santidade) e o livro O Caminho
para a Santidade, que causaram grande impacto teológico nos metodistas da
época. Ela liderou missões nas favelas de Nova Iorque.
Catherine Booth, junto com seu esposo, foi fundadora do
Exército da Salvação; era pregadora, lutava contra a exploração de mulheres e
crianças e publicou uma série de folhetos.
Outra grande ministra foi Hannah Smith, autora do famoso
livro devocional O Segredo do Cristão de uma Vida Feliz. No afastamento
de seu marido do ministério, por motivo de adultério, ela continuou a pregar,
ensinar e escrever. Liderava o movimento da santidade.
O nome mais citado entre os Adventistas do Sétimo Dia é
Ellen G. White. Muitos de seus seguidores talvez não se lembrem do nome
Guilherme Miller, que pregou o advento do Senhor por volta de 1843 e estava
equivocado. Ellen White destacou o sabatismo, como é mais conhecido entre os
adventistas. Nem seu esposo Tiago White ficou tão conhecido. Segundo Maxwell, a
Sra. White produziu mais de 40 mil páginas de material impresso. Ellen G. White
foi a fundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia. (C. Mervyn Maxwell, História
do Adventismo, p. 206)
Parte de um tratado do Rev. Prof. Carlos Alberto Chaves
Fernandes
Professor de Novo Testamento do Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de
Janeiro
"Muito se tem dito dentro de nossas Igrejas sobre a
questão da ordenação de mulheres para os cargos de ofício de diaconato,
pastoral e outros. Como não poderia deixar de ser, as diferentes tendências
buscam, umas mais, outras menos, argumentos bíblicos que justifiquem seus
pressupostos, suas teses e seu ponto de vista.
Dentro deste quadro, uns mais entusiasmados e, por vezes, totalmente tomados
pelo que julgam ser “a verdade”, considerando que, por pressuposto, a Bíblia
expõe, por si, esta “verdade”, acabam dizendo de modo precipitado aquilo que a
Bíblia não diz."
A esta pergunta deve-se responder que, em todo o Novo
Testamento, não existe nenhuma afirmativa ou negação desta matéria. Ou
seja, o Novo Testamento não diz: “somente homens podem e devem ser
ordenados”, ou “mulheres não podem ser ordenadas para qualquer ofício dentro da
Igreja”, ou qualquer ideia semelhante.
As mulheres estavam presentes no ministério de Jesus e “lhe
prestavam assistência com seus bens” (Lc 8.1-3), na crucificação (Mc 15.40), no
sepultamento (Mc 15.47) e na Páscoa (Mc 16.1). Elas foram as primeiras
pregadoras vocacionadas a anunciar as boas-novas do Evangelho: a ressurreição
de Jesus Cristo! (Mt 28.5-10; Mc 16.9-11; Lc 24.4-11).
Paulo reconhecia Júnias como apóstola (Rm 16.7 –
“Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e meus companheiros na prisão, os
quais se distinguiram entre os apóstolos e que foram antes de mim em Cristo”).
Alguns teólogos, como Epifânio, acreditavam que Júnias era
um homem. Epifânio, bispo de Salamina em Chipre, refere-se a Júnias como sendo
um homem que ocupou o bispado de Apaméia da Síria. Outros, como João
Crisóstomo, reconhecem Júnias como uma irmã notável, até mesmo aos olhos dos
apóstolos.
“João Crisóstomo, Bispo de Constantinopla, é notório Pai da
Igreja de tradição grega, Patriarca de Constantinopla, e um dos maiores
pregadores das Epístolas Paulinas da antiguidade. João Calvino destaca
Crisóstomo como, depois de Agostinho de Hipona, o patriarca da Igreja mais
citado pelo Reformador de Genebra. Por isso, é conveniente registrar algo sobre
este mestre da antiguidade.”
— Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes
Enquanto isso, Epifânio tinha formação bíblica inferior,
posições politicamente influenciadas e não era tão erudito quanto Crisóstomo.
Seus escritos frequentemente revelam inexatidões e superficialidade,
representando um tradicionalismo que procura justificações superficiais.
À luz do exposto, Júnia era uma mulher chamada por Paulo
de “apóstola”, exercendo o ofício da Igreja e fazendo parte do grupo dos
apóstolos de Jesus Cristo.
Se o ministério feminino fosse uma heresia, o Novo
Testamento seria claro em sua condenação. Existem mulheres no campo missionário
com ofício apostólico, e a palavra “missões”, no sentido bíblico, vem de apostolém
(gr.).
Paulo ainda menciona Maria, “que muito trabalhou por vós”
(Rm 16.6 – verbo traduzido pelo mesmo usado para atividade apostólica),
revelando que outras mulheres foram testemunhas do Cristo ressuscitado (I Co
15.3-7).
No dia de Pentecostes, as mulheres estavam presentes
e receberam o derramamento do Espírito (At 2.17). Elas foram habilitadas por
Deus para o ministério profético e outros ofícios. No Brasil, as primeiras
pessoas a receberem o batismo com o Espírito Santo foram Celina Albuquerque
e Maria de Nazaré, iniciando o movimento pentecostal com duas mulheres.
Na Igreja Assembleia de Deus, das 19 pessoas que fundaram a nova igreja, 11
eram mulheres.
- Filipe
tinha quatro filhas que profetizavam (At 21.9).
- Havia
Ana, filha de Fanuel, profetisa avançada em idade (Lc 2.36).
- Em
Filipos, somente mulheres ouviam Paulo (At 16.13-17), destacando
Lídia, comerciante de púrpura, a quem “o Senhor abriu o coração” (At
16.14).
- Em
Jope, Tabita ou Dorcas, discípula dedicada à obra (At 9.36).
Mulheres atuaram como diaconisas, como Febe (Rm 16.1), e Paulo direciona instruções sobre o diaconato para mulheres em I Tm 3.8-13, destacando respeito, temperança e fidelidade.
Mulheres na missão e no apostolado
Priscila e Áquila atuaram como missionários em Roma, Corinto
e Éfeso (Rm 16.3; At 18.26), mostrando que o ofício missionário feminino era
reconhecido e legítimo, restrito ao conceito de enviados para um propósito
específico. Se a mulher podia exercer funções missionárias, por que não também
na igreja local?
Jesus redimiu pessoas e formou uma igreja de pessoas, onde homem e mulher são novas criaturas em Cristo (II Co 5.17). A tradição judaica, que considerava ser um favor nascer homem, foi superada. Em Cristo, todas as distinções de sexo para fins ministeriais são secundárias à unidade e à complementaridade no Corpo de Cristo (I Co 12).
Epístolas pastorais e exegese
Mesmo considerando debates sobre a autoria das epístolas
pastorais, estas devem ser lidas como inspiradas por Deus, sendo aptas e
indispensáveis para questões de fé e prática na Igreja.
Paulo apresenta listas de dons diferentes em Coríntios e
Romanos, destacando mulheres profetisas, apóstolos e líderes missionárias. Cada
comunidade tinha características próprias; não há regra universal que exclua
mulheres do ministério.
O Novo Testamento, portanto, não proíbe a ordenação de
mulheres. A decisão sobre ordenar ou não deve ser uma opção
denominacional e eclesiológica, e não doutrinária.
Referências:
Bíblia Sagrada – Almeida Revista e Atualizada
-
Robert G. Clouse – Mulheres no Ministério
-
Frederick A. Norwood – Expandindo Horizontes: As Mulheres no Movimento Metodista
-
C. Mervyn Maxwell – História do Adventismo
-
Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes – Teologia do Novo Testamento



Falou e não comprovou o pastorado feminino.
ResponderExcluirSe formos seguir todos os costumes dos dias de hoje as igrejas estão perdidas.
Temos q tomar muito cuidado , quando se fala da palavra de Deus.
Pregar , falar e uma coisa .
Agora dirigir igreja é outra completamente diferente.