Vidas ou navios? O dilema de Atos 27






Vidas ou navios? O dilema de Atos 27

Paulo queria salvar as vidas.
A tripulação queria salvar o navio.

Em Atos 27, o grande apóstolo está em meio a uma tempestade. Ele carrega no coração a certeza de que Deus prometera preservar as 266 vidas a bordo, ainda que o navio — símbolo da estrutura — fosse destruído.
Mas enquanto Paulo pensava em almas, a tripulação se desesperava pelo navio.

O navio representa as instituições — nossas igrejas, sistemas e estruturas humanas.
A tripulação representa nós, os líderes: homens e mulheres que “comandam o navio”, mas muitas vezes esquecem o verdadeiro propósito da viagem.

Se formos honestos, precisamos admitir:
temos nos ocupado mais em manter o navio flutuando do que em salvar os que estão se afogando.

Somos, por natureza, institucionais.
E é por isso que passamos mais tempo em reuniões do que em ruas, mais preocupados com estatutos do que com pessoas, mais atentos aos templos do que aos corações.

Jesus não construiu templos — Ele construiu pontes.
Ele estava onde as almas estavam: nas vielas, nas casas, nas praças, junto dos doentes, dos pecadores e dos esquecidos.
Se a igreja de Cristo quiser ser fiel à sua origem, não pode estar em outro lugar.

Estou inquieto.
Sinto-me desafiado por Aquele que é o Senhor da seara.
Não podemos continuar investindo mais em estruturas do que em pessoas.

Como líderes, fomos chamados a ser mordomos, não administradores de naufrágios.
Os recursos que Deus nos confiou precisam servir à vida — e não apenas à manutenção de sistemas.
Enquanto multiplicamos congressos e convenções, faltam centros de recuperação, abrigos, escolas missionárias, projetos urbanos.
Muitos que se dizem “salvos” estão trancados dentro dos navios, enquanto os que realmente precisam de socorro estão se afogando do lado de fora.

Paulo conversou longamente com um escravo até conduzi-lo a Cristo.
Ele entendeu que a missão não é preservar embarcações, mas resgatar pessoas.
Quando confundimos o navio com o propósito, gastamos força lutando por uma causa que não tem razão de ser.

Deus ainda está dizendo:

“As vidas serão salvas, mas o navio pode se perder.”

E talvez seja isso mesmo o que precisamos:
deixar o navio afundar para que as vidas sejam libertas.

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